Ali estava a família: o pai, há quinze anos separado da mãe; a mãe, cada vez mais envolvida no abraço de Alzheimer; a irmã, que suporta já mais de vinte anos de casada; ela, que nunca casou e a sobrinha, pela idade ainda arredada desse junta-separa. Faltava o marido da irmã, de mal com o pai, e o pai do seu filho, já antes da separação arredio de fotos de família. E faltava o filho pequeno, depositário das últimas esperanças do avô.
Recuando vinte anos, a mesma foto não defraudava ainda as esperanças, mas agora que o tempo vincou rugas e trajectos, enganos, falhas, lutas e desânimos, agora que se revelaram impotências e sonhos traídos, tudo é visível na imagem, até mesmo as distâncias, apesar dos abraços, sempre fotogénicos.
É este o retrato do homem lutador que construiu para si um lugar confortável na vida, tal como se propôs na sua juventude, quando quase tudo lhe faltava e, por isso, tudo queria. E, por destoarem, vai deixando cair as mulheres, todas elas sucumbidas à tristeza, há já três gerações. E ela, reconhecendo-o, envergonha-se e esconde-se; sabe que o desiludiu, ao pai de vontade férrea.