Quando oiço uma música nova e quero tanto partilhá-la com o mundo todo mas frente-a-frente para lhes ver o brilho nos olhos.
Quando passo no corredor e vejo o meu reflexo no espelho onde a minha mulher se perde nos arranjos desnecessários à sua beleza que é, sempre.
Quando penso no que já vivi e me dá aquele aperto da certeza que não vou viver tudo aquilo outra vez.
Quando me a folha branca que me grita incertezas e me afunda em dúvidas para depois ser preenchida por algo que sempre esteve lá sem nunca estar.
Quando imagino o futuro sentado no meu colo a fazer perguntas para as quais não tenho resposta mas quero tanto responder com a felicidade do que sei.
Quando guardo para mim um filme que gostei mas que nunca poderei revelar ao mundo por aquele gosto ser tão meu que não poderá nunca ser de mais ninguém.
Quando olho para os meus livros que, num desalinho alinhado, me mostram portas e janelas para outros lugares que nunca poderia ter conhecido de outra maneira.
Quando fisicamente interrompo o trabalho e me junto à minha vontade que já vai no terceiro café no bar do rés-de-chão com janela para lá para fora.
Quando salto para a piscina de águas espelhadas e crio ondas de prazer que, inevitavelmente, se abaterão sobre os meus ombros cansados.
Quando, antes de sonhar, fecho os olhos e entro num mundo quase real onde ganho tudo, onde posso tudo, onde sou tudo.