Há uma cortina que nunca se mexe, está imóvel no tempo e no espaço. Atrás dela, dentro dela e ao lado dela vive uma velha que olha pela janela. O seu olhar está fixo, completamente imóvel, numa perfeita sintonia com o cortinado que a rodeia.
Todos os dias em que passei por esta janela vi a velha, os seus olhos verdadeiramente mortos observando um mundo incrivelmente vivo. Encostada à parede, a cortina envolvia-a, defendendo o interior da casa do resto do mundo.
Um dia a velha já não estava lá. Nem nos dias seguintes. Mas a cortina continuava eterna, exactamente na mesma posição, como se ainda sentisse a sua dona encostada à parede.
Tenho pena de não compreender o que a velha olhava.