A minha recente ida à feira do livro, fez-me recordar uma jovem que conheci em tempos. Ela tinha uma particularidade singular: a Sara, assim se chamava, devorava livros atrás de livros. Coisa nunca vista. Apesar da sua tenra idade, ela sabia vincar o seu gosto, ignorando os falatórios que a orbitavam. Sempre que passava nos corredores da escola, ouvia cochichos aqui e cochichos acolá… algo que resvalava no seu total desdém. O seu peculiar aspecto acabava inevitavelmente por desferir o golpe mortal a qualquer vã esperança numa ilusória integração social, naquele selvático orbe da adolescência: olhos verde-azeitona que perscrutavam por detrás de lentes fundo de garrafa, dentes branco marfim enjaulados em embocadura metálica, corpo anafado envasilhado em roupas do século passado.
Assim, fugia do mundo criando um mundo só seu…
Para a Sara, “bad books don´t exist”… ou seja, qualquer livro era bom. Fosse a Guerra e Paz, de Tolstoi, de difícil digestão, fossem as apetecíveis trilogias da moda, as “quase intragáveis” obras negras de autores malditos, os livros light da Margarida Rebelo Pinto ou, mesmo, os agridoces do Nicholas Spark. Ela nunca se fazia rogada.
Sempre que ia passear para o parque – e enquanto outros da sua idade levavam tabletes de chocolate – ela levava uns livros de bolso, não fosse surgir repentinamente “aquela vontade”… é que a Sara devorava livros… literalmente.