Junho

O Homem do País Azul - Manuel Alegre
Gosto muito da prosa de Manuel Alegre. Pelo menos, foi esta a conclusão a que cheguei no fim das 138 páginas deste livrinho de contos, que comprei precisamente por causa do conto que dá o nome ao livro, lido no meu livro de Português do 10º ano e que me ficou sempre guardado na memória. Gosto de tudo. Dos toques políticos/históricos de O Homem do País Azul e O Outro Lado, aos toques fantásticos de Artur e os múltiplos de três e O Aviso, aos toques domésticos e intimistas de A Senhora do Retrato e A Grande Subversão, tudo me agradou sobejamente, e fez com que ficasse com ânsia de ler mais. Gosto principalmente da escrita simples e directa, sem grandes floreados ou rodeios, mas que consegue deixar um gostinho onírico na história.

A Solidão dos Números Primos - Paulo Giordano
Apesar de uma premissa interessante, o livro soube a nada. As duas personagens principais, crianças no início do livro, sofrem circunstâncias que as vão tornar em adultos com tendência a isolar-se na sua "bolhinha de protecção Actimel". Não há um pingo de evolução que se note enquanto as acompanhamos até à idade adulta. Deixam-se arrastar pela maré de encontro a situações que não desejam, e pouco fazem para mudar. Aliás, quando tomam decisões, é só para o pior. O livro assim começa, e assim acaba, tudo em águas de bacalhau, apesar de nos querer fazer acreditar que os últimos actos foram as suas "decisões libertadoras" daquele padrão destrutivo, mas que na verdade foram apenas mais parvoíces do mesmo. A única emoção que senti com este livro foi no final, quando olhei para ele e me lembrei do que tinha pago por ele e me atingiu um grave remorso.

O Miúdo que Pregava Pregos Numa Tábua - Manuel Alegre
Depois do deslumbramento com O Homem do País Azul, emprestaram-me este livro e usei-o para limpar o palato cerebral da pastelada do livro anterior - e funcionou lindamente. Não sei o suficiente acerca da vida de Manuel Alegre para saber até que ponto a história é auto-biográfica, mas a verdade é que há uma quentinha sensação intimista ao lê-lo, mas sem ter aquele ar evidente de "ora bem, foi assim que aconteceu:". Está cheio de analepses e prolepses, de referências históricas e apontamentos pessoais, tudo embrulhadinho numa escrita deliciosa que me deixou o coração quentinho e com vontade de me ir sentar no colo do homem e chamar-lhe avô.


O Senhor Valéry - Gonçalo M. Tavares
Um snack divertidíssimo para mordiscar quando se precisa de espairecer a mente. E mais não digo.


Jerusalém - Gonçalo M. Tavares
Uma obra prima. Não sou sequer capaz de explicar de que trata o livro, porque não há como descrevê-lo de maneira a fazer justiça à profundidade e mestria como trata de temas como a loucura, o amor, o ciúme, as relações, as decisões, o acaso e o destino. Aliás, só o fazer esta lista de palavras fá-lo soar bem mais banal, e não é nada disso. Vale bem os prémios que ganhou até agora e todos os que lhe queiram atribuir no futuro. Li-o de empréstimo e passados dias comprei-o para poder reler e reler e reler...

Quem Quer Ser Bilionário - Vikas Swarup
Comecei a ler este livro da mesma maneira que leio outros cujos respectivos filmes já vi: um bocadinho de pé atrás, não relativamente à qualidade, mas à minha capacidade de o apreciar tendo já na mente o aspecto visual da coisa (e sabendo o final, também). Felizmente, não tinha razões para isso: filme e livro são suficientemente diferentes para poderem ser ambos apreciados despite eachother. O livro, em si, agradou-me bastante, e ilustra a Índia mais sob a luz do contraste de religiões do que o de classes. A personagem principal, Ram Mohammad Thomas, enfrenta como pode aquilo que a vida lhe atira, e tenta sempre usar tudo em seu proveito, ao invés de se deixar ser vitimizado. A estrutura é semelhante à do filme: cada capítulo corresponde à análise de uma pergunta do programa, em que ficamos a conhecer essa parte da vida de Ram. As perguntas/respostas, muitas vezes, são apenas marginalmente relacionadas com o evento, e dessa forma nunca absorvem do leitor a atenção que é devida à "biografia" da personagem.

As Quatro Vidas do Salgueiro - Shan Sa
Para um livro que prometia ser um interessante, se bem que ligeiro, take romântico da mitologia chinesa, foi das piores coisas que li este ano. Lamechas até ao doloroso, personagens nada interessantes, mitologia de grilo, uma falta de subtileza tremenda (só faltava o livro vir acompanhado de um anãozinho que apontasse e gritasse "ESTÃO A VER? TAL COMO NA REENCARNAÇÃO ANTERIOR!!! OMG!!!" cada vez que se chegasse à página apropriada), e, como se isso não bastasse, a tradução era tão boa que sempre que alguém costurava, "cozia". Sempre. Várias vezes ao longo do livro. Livros maus existem, e este é só mais um.

As Dez Figuras Negras - Agatha Christie
Tenho uma pequena panca com os livros de Agatha Christie que consiste no seguinte: não leio nada que não inclua Hercule Poirot. Não por desdém, apenas gosto tanto da personagem que quero ler tudo o que o inclui a ele antes de me meter nos restantes universos "christieanos". Mas ouvi tanta boa coisa sobre este livro que tive que o ler, e é tão bom que me vi incapaz de o largar. Ficou para mim provada a mestria de Agatha Christie, mesmo sans Poirot.