Sinopse: «Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu.
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?»
João Ricardo Pedro nasceu em Portugal em 1973. Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico, trabalhou vários anos em telecomunicações. O Teu Rosto Será o Último é o seu primeiro romance.
Trata-se de uma estreia absolutamente invulgar que o júri quis distinguir sobretudo pela estrutura que, assim às primeiras, parece a de um conjunto de contos independentes, mas que, ao fim da primeira parte, se percebe ter sido uma opção mais do que reflectida e planeada. Lê-lo é o que faz falta, porque eu – que tive a felicidade de o ler três vezes – tenho a consciência de que tudo o que possa dizer sobre ele ficará sempre aquém da fruição que oferece a sua leitura. E, no entanto, para levantar a pontinha do véu, deixem-me contar que nele se fala de uma família – sobretudo de três gerações masculinas (mas também de uma mãe muito especial, de uma mulher que já foi uma menina muito especial e de outras figuras exteriores à família que não deixam de ser personagens muito especiais) – num contexto que abarca o Portugal da ditadura, da Guerra Colonial, da Revolução de Abril e da contemporaneidade; e existe uma maturidade literária rara num estreante que, ainda por cima, tem um tipo de humor bastante raro nas nossas letras, aplicado curiosamente nas cenas que nos poderiam indispor por uma certa crueldade e frieza, mas produzem, dessa maneira, uma espécie de baque seco e desarmante. Conheçam, pois, Augusto (o avô, médico no Interior), António (o pai, marcado pela guerra), Duarte (o neto, genial ao piano) e, acima de todos, o autor, que ainda nos vai dar muitas alegrias com este livro e os outros que queremos que ele escreva. Serão, prometo, horas extraordinárias.
O escritor João Ricardo Pedro recebe hoje o Prémio Leya, que ganhou com o seu primeiro romance intitulado 'O teu rosto será o último'.
Em 2009, quando ficou desempregado, o engenheiro electrotécnico João Ricardo Pedro decidiu cumprir um sonho que tinha há muito tempo: "No dia seguinte, fechei-me em casa e comecei a escrever um livro." Passou assim dois anos. Completamente concentrado na escrita.
Depois, entregou o livro na Leya, para concorrer ao prémio que a editora atribui anualmente, e voltou à sua vida. Casado e com dois filhos, para sobreviver dá explicações de matemática.
O livro está à venda desde março.
O autor recebe o prémio de 100 mil euros, o mais valioso para a literatura em português, às 18.30, no Palácio Galveias, em Lisboa.
A cerimónia de entrega do Prémio Leya, que será presidida pelo Primeiro Ministro, Dr.º Passos Coelho, contará ainda com as presenças de Manuel Alegre, presidente do juri do Prémio Leya, de Miguel Pais do Amaral e Isaías Gomes Teixeira, Chairman e CEO da LeYa, respectivamente.
Leia mais pormenores no e-paper do DN
Fenómenos desencadeantes de enfarte do miocárdio
Esforços físicos, stress psíquico, digestão de alimentos, coito, tempo frio, vento de frente e esforços a princípio da manhã.
Ou seja, é extremamente perigoso fazer sexo ao ar livre com vento de frente, após ter tomado o pequeno almoço numa manhã de inverno...
Por norma a Dom Quixote é das poucas editoras portuguesas, cujas obras são das melhores de sempre. Este livro prometia muito, desde o título poético até ao prémio que recebeu e a sinopse. Mas é este o mal dos políticos e do marketing, promete-se muito, recebe-se pouco. Eu gostava de "dar" numa de intelectual, sacar dos óculos e dissertar sobre o quão maravilhoso este livro foi e quão enriquecedora fora a experiência de pegar neste livro e beber das suas palavras significados que me fariam descobrir o sentido da vida e o significa desta... Não aconteceu, mas podia ter acontecido!
O problema do livro em si está no autor que tenta passar para o papel algo que não é, tenta assumir uma personalidade que não consegue controlar e o resultado é um emaranhar de situações desconexas, cujo estilo de escrita é uma salada de frutas que não se entende. O início começa bem, fresco, leve com algum excesso, confesso, de calão (e eu adoro calão nos livros, mas de facto aqui durante 10 páginas seguidas era um por página e sem contexto), no entanto a partir de uma certa parte o autor parece mudar de personalidade de adopta um estilo de escrita à José Luís Peixoto com repetições desnecessárias. Mais à frente o autor parece ainda querer sugar a personalidade da escrita de Saramago e arrisca a escrever uma frase com mais de 10 linhas, que resulta em algo sem sentido. Confesso que estava a ler e pensei "Estilo de escrita o tanas! Podia muito bem ter partido esta frase em três e ficava algo muito mais apelativo"... mas nãããõ! Vamos arriscar a escrever numa primeira obra algo que Saramago levou anos a conseguir... Bem, enfim, em frente!
A história em si podia ter sido melhor estruturada, o autor podia ter pegado em cada família e geração e ter seguido um pouco a corrente de consciência, sem andar de um lado para o outro a saltar e nem sabemos a idade das personagens (em alguns episódios isto importa), nem porque raios aquela situação está a acontecer. O livro precisava de uma revisão, pelo menos para ser menos abstracto e esperar que o leitor entenda tudo sabe-se lá como. Depois supostamente este livro deveria retratar o 25 de Abril, ainda assim é complicado entender de facto o período e os traumas do período da Guerra do Ultramar com uma prosa seca e sem conteúdo. O pai de Duarte regressa da guerra um homem diferente, mas não se sabe o porquê., um flashback ou analepse para arrepiar o leitor com os episódios de guerra. Ou seja, em vez de dizer "O teu pai não é o mesmo desde que veio da guerra", mostrar o motivo pelo qual ele mudou. Nisso ALA é mestre.
Outra coisa que o livro peca é o excesso de informação que é dita em vez de mostrada. Acho fantástico que em Portugal um prémio destes seja atribuído a algo que seja só "tell", "tell,"tell". O cúmulo aconteceu quando o médico se apaixona pela sua governanta em apenas duas linhas. Saiu da aldeia três semanas, voltou olhou para ela e a partir daí começou a chamá-la "minha Laura": "Minha Laura vamos casar. Minha Laura é um menino. Minha Laura chama-se António. Minha Laura a nossa nora parece ser boa pessoa (ou moça não me lembro)." e é assim que sabemos os acontecimentos.
[Esta parte contém SPOILERS evite-a]
Spoiler! :
As personagens são algo de esquisito. Não são "likable", não temos tempo de sequer nos importarmos, nascem, morrem... we don't care, porque não há tempo suficiente para sequer gostarmos ou odiarmos.
Duarte é o pior de eles todos, um suposto génio do piano, ignora este seu dom e torna-se numa personagem supostamente trágica, mas que não passa de um alienado no mundo. A personagem de Duarte consegue ter um episódio onde, após ter convidado um amigo (que é um prodígio no desenho) para lhe fazer um retrato enquanto toca piano, encontra-o a (perdoem-me a expressão) bater uma no sofá em vez de desenhar o retrato... nesta altura pensei "Calma! Saca de todos os teus conhecimentos de leitura hermenêutica e arranja já de imediato uma explicação para este acontecimento!" Como era uma da manhã não consegui, agora com algum distanciamento pensei que Duarte fosse um homossexual algo reprimido (?) e aquele episódio o tivesse traumatizado, visto ser algo que ele, provavelmente, não entendesse na altura (não faço ideia que idade o rapaz tinha), ou então soubesse o que era e, sabia que era algo mal visto e proibido. Mesmo assim foi a cena "wtf" do livro.
Em suma: O teu rosto será o último vem envolto de uma capa bonita, de uma máquina de marketing muito boa e que consegue convencer os mais ingénuos que isto é boa literatura. No entanto, deixem-me que vos diga, se vocês não entendem um livro (excepto os clássicos) a culpa não é vossa, é do autor que não soube explorar bem os elementos que tinha à sua disposição. Claro, que há muitas pessoas que pegam em palavras bonitas e pré-feitas, escrevem uma opinião tal e qual o livro, com uma embalagem bonita, mas que na realidade não passa de um adjectivado oco. Sendo assim, este livro aparenta ser algo que não é, com muita pena minha, pois acho que tinha potencial para ser algo muito bom (a roçar no genial).
Eu posso emprestar, tenho lido críticas muito boas, até o Bibliotecária de Babel deu 8,5 em 10, mas sinceramente achei que estavam a arranjar argumentos de papel de embrulho para o livro com falhas. Pode ser que gostes e consigas descortinar simbolismos que o livro não tem XD Sometimes a blue sky it's just a blue sky, às vezes bater uma, é mesmo só bater uma!
Eu sou assim tão credível? Bem para quem então quer ler algo parecido, do género, mas com mais qualidade tem sempre o valter hugo mãe. Ah já agora li este livro para o clube de literatura da Bertrand de Braga, por isso vou lá discutir a obra Devo levar tudo anotadinho ^^ Quem for de Braga e se quiser "ajuntar"...
Ani, credível ou não, estás de parabéns. Li opiniões (todas positivas) do José Mário Silva, da Maria do Rosário Pereira, do Manuel Alegre e de mais uns tantos. Além disso, conheço pessoalmente o autor. Nada disto me fez ter vontade de ler o livro. Depois de ler o que escreveste, fiquei com vontade de pegar no livro e tirar as minhas próprias conclusões.