Excerto 1
Nessa noite ele estava simultaneamente excitado e nostálgico. Uma estranha mistura de estilos sentimentais, pensava Theodor, com um certo gozo.
A janela tornava-se, naquele momento, a intermediária da contradição. Uma forte energia puxava, por um lado, Theodor para fora da janela, e dava-lhe ordem para descer as escadas e para rapidamente procurar companhia. Procura pêlos púbicos, Theodor, uma compensação púbica, murmurava ele com um sorriso perverso. O mundo tem a obrigação de me compensar pelos dias maus.
Excerto 2
Com a grande chave, Domingos Mau-Tempo abriu a porta. Para entrar, tiveram de curvar-se, isto não é nenhum palácio de altos portões. A casa não tinha janela. À esquerda era a chaminé, de lareira rente ao chão. Domingos Mau-Tempo petiscou lume, soprou um punhado de palha e pôs-se a girar o fugaz archote para que a mulher visse a nova habitação. Havia lenha ao canto da chaminé. Isso bastava. Em poucos minutos, a mulher deitou o filho a um canto, juntou gravetos e achas, e o lume estalou, abriu-se sobre a parede de cal. A casa então ficou habitada.
Excerto 3
- O que desejam os senhores?
Não pelos lábios, pela maçã de adão visto que a apertar o guiador de lábios selados, escancararam-se no momento em que a mira de uma pistola do exército lhe rasgou a bochecha e a quantidade de dentes meus irmãos que o pavor traz consigo, caninos, pré-molares, molares e uma porção deles sem nome que ignorávamos existirem, o pinoca quis tirar o lenço da algibeira mas filaram-lhe o cotovelo
- Não somos senhores somos pretos
Excerto 4
Prepara-se para começar o dia. Pousou na cadeira húmida o jornal dobrado – é o da véspera, alastram borrões em negruras de Rorschach, logo secarão – e vê de observar, vista rasante, a superfície da piscina, procurando captar aquela película liminar, com tendência a franzir em minúsculos arrepios e que dá apoio a umas bichezas rebarbativas, chamadas pelo povo “alfaiates”, e que são sempre sinal de águas deficientemente tratadas… Fere a massa líquida o sol de través, confirmam-se refracções e paralaxes, reflectem-se no fundo, entre estrias simétricas, uns borbotos escuros, concêntricos, moventes a uma mínima aragem.
Quatro excertos de quatro livros de outros tantos autores portugueses. Excertos tirados de forma aleatória, isto é, não escolhidos. Será que agora que decorre o mês Lobo Antunes no BBdE todos conseguem identificar o seu estilo. E já agora, alguém consegue identificar os outros ?