- Porquê ler os clássicos da literatura portuguesa?
Os clássicos correspondem a obras que necessariamente abordam questões intemporais e em que, na maior parte dos casos, a estrutura narrativa e a linguagem têm uma qualidade excepcional. Ler os clássicos constitui assim uma forma de aprofundar o conhecimento pela natureza humana e pela própria história da humanidade.
- A definição de clássico está longe de ser consensual. Afinal, o que torna uma obra literária um clássico?
A resposta a essa questão foi dada na pergunta anterior, não deixando, no entanto de ser um mistério porque é que às vezes certas obras sobrevivem ao tempo e outras não.
- Eça e Pessoa continuam a ser bastante lidos, mas nem todos tiveram tal sorte. Que autor português considera que foi imerecidamente votado ao esquecimento?
Apesar de serem mais recentes, Ferreira de Castro e Aquilino Ribeiro.
- «Prognósticos só no final do jogo», mas que obra contemporânea lhe parece capaz de vencer o teste do tempo e vir a integrar o cânone literário português?
Sem sombra de dúvida, José Saramago e o seu Memorial do Convento.
- O advento dos eBooks veio dar novo fôlego a certos autores, no entanto, a opinião acerca do seu impacto nos nossos hábitos de leitura está longe de ser consensual. Como vê o futuro do livro num ambiente predominantemente digital?
Depois de um período em que os eBooks tiveram uma grande sucesso nos países europeus, a sua popularidade começou a decair. Está estudado que não é a mesma coisa a forma de leitura num suporte informático e num suporte de papel. A mancha gráfica no papel, o virar das páginas e o próprio cheiro dos livros tornam a leitura em suporte de papel mais gratificante, independentemente das vantagens económicas dos eBooks. Talvez por isso, não me parece que os livros em papel venham a acabar.
Thanatos wrote:Só pela menção a Aquilino a Ana leva a minha vénia.
Thanatos wrote:Para mim um ebook parece sempre um rascunho em desenvolvimento enquanto o livro é o resultado final. Os ebooks serão os paperbacks deste século.
Samwise wrote:Já recebi no e-mail o anúncio da publicação da primeira entrevista, a Ana Cristina Silva.![]()
Gostei bastante de ler - penso que o formato é ao mesmo tempo abrangente e curto (no sentido de não ser maçador e permitir aos entrevistados responder sem perderem demasiado tempo). Espero que os restantes contactados também acolham a iniciativa com entusiasmo.
Porquê ler os clássicos da literatura portuguesa?
Porque sem a leitura dos clássicos, nacionais ou estrangeiros, não é possível acrescentar. Acrescentar no sentido de fazer novo.
A definição de clássico está longe de ser consensual. Afinal, o que torna uma obra literária um clássico?
Não sou especialista, mas diria que, em termos absolutos, devêm clássicas as obras que o tempo assim fixou. Mas não sendo o tempo uma entidade abstracta, uma tal “fixação” (ou classificação) pressupõe distância e consenso crítico.
Eça e Pessoa continuam a ser bastante lidos, mas nem todos tiveram tal sorte. Que autor português considera que foi imerecidamente votado ao esquecimento?
José de Almada Negreiros. Podia citar outros. (A tentação de citar Mário de Sá-Carneiro é grande.) O facto é que hoje ninguém lê Almada, muito melhor poeta que meia dúzia da sua geração. E nem há desculpa para não ser lido, porque a poesia está editada na íntegra. O Almada que “ficou” é o artista plástico. E ficou por razões laterais: presença em espaços públicos (igrejas, gares marítimas, etc.) e a lenda do performer.
«Prognósticos só no final do jogo», mas que obra contemporânea lhe parece capaz de vencer o teste do tempo e vir a integrar o cânone literário português?
A de Agustina Bessa-Luís, ainda hoje muito controvertida.
Há alguns anos adaptou O Crime do Padre Amaro para o público jovem, no âmbito da Colecção de Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças, publicada pela Quasi Edições em parceria com o jornal Sol. Em que medida podem estas adaptações contribuir para a educação literária das crianças e, consequentemente, para os seus hábitos de leitura?
Na altura, foram-me dados a escolher dois títulos: A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro, e O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós. Escolhi o Eça e não me arrependi. Ler o Eça é como ler a realidade actual. Nenhum juízo moral pode justificar a interdição (aos pré-adolescentes) de obras canónicas que versem temas “melindrosos”. Um/a miúdo/a que tenha lido a adaptação que fiz, provavelmente terá curiosidade em ler a obra original. Isso é que importa. Eu tive apetência pelo Shakespeare porque muito novo, com 13 ou 14 anos, li as versões em prosa feitas em 1807 por Charles e Mary Lamb, Tales from Shakespeare, traduzidas e editadas em dois volumes pela Portugália. Inexplicavelmente, a obra deixou de ser reeditada no nosso país. Olhe, aí tem um bom exemplo de clássico! Já tenho oferecido, mas vejo-me obrigado a mandar vir pela Amazon.
Bugman wrote:Quinzenal, que dá para fazer o peixe render mais.
Samwise wrote:Bugman wrote:Quinzenal, que dá para fazer o peixe render mais.
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Muito interessante, a entrevista de Eduardo Pitta.
vampiregrave wrote:Samwise wrote:Bugman wrote:Quinzenal, que dá para fazer o peixe render mais.
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Muito interessante, a entrevista de Eduardo Pitta.
Fica quinzenal então. Próxima entrevista publicada no meu aniversário
Thanatos wrote:vampiregrave wrote:
Fica quinzenal então. Próxima entrevista publicada no meu aniversário
Olha a dica...
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