Vinha direito a ele. Numa fúria avassaladora que levava o ímpeto da loucura por detrás. Sentiu o corpo rasgado, perfurado, estralhaçado em milhares de partículas como se todas as moléculas se desagregassem e dessem um último suspiro na névoa da manhã baça. O espírito atravessou-o e deu uma volta nas brumas plúmbeas... e ele indefeso preparou-se para o novo ataque.
A determinação que levara Roderigo a visitar o lago, o fatal lago onde os homens se perdiam, abandonara-o desde que vira a brumosa figura materializar-se por sobre as águas glaucas. Agora tudo o que queria era conseguir libertar-se do mortal amplexo que o sufocava. Esquecer a dor. Fugir.
Mas estava apaixonado e é o fado dos apaixonados de não conseguirem libertar-se. Mesmo sob perigo de vida. Indefeso, mesmerizado, via a determinação da Dama em roubar-lhe a intangível alma para levar com ela para o Outro Lado e nada podia fazer.
Nem um grito, nem um esboço de fuga.
Nada.
Preso num enamoramento sem peso era uma mariposa que queimava as asas no fulgor da luz da presença dela. E como a mariposa de asas queimadas, caía num poço vertiginoso que acelerava constantemente. Passava galáxias como grãos de areia por entre dedos. Sentia a curvatura indelével do Cosmos que se premia contra o vaso espiritual, moldando-o, torneando-o, refazendo-o.
O prado era verde e luminoso. A seu lado estava uma rapariga, vestida de linho branco. No cabelo dourado tinha uma tiara de pérolas. A pele de leve tom matizado dourado reflectia o Sol que se agigantava na abóbada celestial. E apesar de todo o brilho do astro conseguia divisar outras estrelas no firmamento. A rapariga olhou para ele com doces olhos castanhos. Sorriu-lhe e ele devolveu o sorriso. Sentia-se novo e pujante. Sentia-se capaz de pular, correr e saltar.
Mas apesar de toda a energia mal contida dentro de si apenas se inclinou e brevemente aflorou os lábios dela.