Tenho mil músicas no iPod mas não consigo ouvir nenhuma até ao fim.
(porque só penso em ti)
Tenho cinquenta livros na estante por ler mas todos me aborrecem.
(porque eu quero é a ti)
Quero desligar-me da net, deixar a bateria do telemóvel chegar ao fim, deixar de ler as gordas dos jornais e nunca mais pegar no remoto da TV.
(porque afinal é contigo que devia estar)
Quero que me anestesiem, que as horas passem a dias, e os dias se somem em semanas e que esta dor se esvaneça numa memória longínqua, daquelas que apenas entrevemos numa bruma, como uma manhã de nevoeiro.
Quero que os anos me levem em sopro rude e para sempre me tirem deste pesar que me faz sombrio.
Que as cinzas dos cigarros fumados em espera se acumulem tal como os restos do meu interior. Da janela do teu quarto jorra uma lança de luz.
(porque não podemos estar mais)
Aqui fico. Ainda espero.