Esperei por ti a noite toda. O mínimo que podias ter feito era ligar. Dizeres alguma coisa. Telefonares nem que fosse para dizer para eu me ir foder. A indiferença rói-me mais que a frontalidade. Mas disso já tu sabias. Sempre o soubeste e agora que penso nisso acho que não me disseste nada precisamente por saberes que isso seria o que mais me magoaria.
Tu, com os teus lindos e compridos cabelos e esses olhos verdes que me enfeitiçaram logo que os vi, tu que querias de mim? Fui uma conquista? Uma diversão? Fui o títere que manipulaste a bel-prazer como se fosse parte dum qualquer estágio na tua senda de sensual feminilidade?
Ou fui algo mais?
Gosto de pensar que sim. Mas lá no fundo sei que não. Não passei dum marco na tua estrada. Daqueles que a folhagem já cobre e a quem o tempo já tirou o preto da tinta que indicava os quilómetros até à próxima povoação. Aqui me quedo mudo, triste, sem saber o que fazer das recordações. Queimei a parte física mas a outra, aquela que fica dentro de nós, para essa não há cirurgia que a arranque nem tempo que a apague.
Preciso de mudar de pele! Preciso de mudar de face, de nome, de cidade, de tudo e mais alguma coisa. Quero fugir de mim. Quero deixar de chorar lágrimas salgadas de cada vez que leio o teu nome, que ouço a nossa música, que vejo os nossos filmes. Que merda de frustração que não me deixa ir em frente. Prendes-me como uma âncora ao lodo das minhas emoções. Quisera ser rio para correr eternamente para esse mar que tanto me apela.
Mas sou homem. Não sei como ser água. E mais uma vez procuro-te na internet. E ligo o teu número apenas para ouvir aquela gravação que me diz que o número já não existe.
Esperei por ti a noite toda.