Este Meu Velho Lápis
Escreverei…escreverei até que os dedos estejam tão martirizados que já não possam mais mover-se de modo a formar palavras. Já nada mais me resta do que este lápis gasto e ruído, fruto desta eloquência insana que me corrói. Se ao menos eu pudesse arranjar uma caneta, daquelas que contêm aquela tinta mágica, insólita e colorida, que transmite conforto. Mas que delírios me levam a escrever tais coisas? Tal caneta não existe, não passa de uma manobra de diversão da minha razão, mais uma maneira de me humilhar e de mostrar que até o meu próprio corpo se delicia com toda esta dor que me consome.
Não sei que mecanismos me levam a ter estas atitudes grotescas e ridículas. Nem sequer sei quem sou, nem qual o porquê da minha existência. Pergunto-me se a minha vida terá algum significado ou objectivo. Ou se algum dia estas palavras terão algum significado para quem as ler, já que se tratam apenas de pequenos desabafos sem sentido. Palavras ocas que passam do meu coração para o papel através deste velho lápis. Palavras inúteis e frígidas que constituem as confissões deste coração jovem mas decrépito.
E agora pergunto a mim mesma. O que acontecerá se um dia este bocado de madeira com que escrevo deixar de poder escrever? E se nessa altura estiver tão só, que nem um lápis desgastado tenha para saciar esta minha fixação pela escrita? Não quero sequer pensar no que poderá acontecer, mas as imagens invadem desvairadamente a minha mente, sem piedade, forçando-me a ver aquilo que provavelmente será o dia do derradeiro fim desta insanidade e de todo este escreve, escreve…