O Adeus
Ainda me lembro da última vez que te vi, dos teu sorriso, do teu olhar ingénuo e das palavras doces que me sussurraste ao ouvido. Palavras que pairavam no ar doce e que se misturavam com o cheiro doce a maresia. A areia lisa e brilhante, e o mar, negro e profundo, do qual emanava um odor doce, límpido, que me libertava os sentidos, pareciam contemplar a nossa união.
Ao longe viam-se alguns barcos que nos alertavam para o passar das horas. Não tardaria a amanhecer e tudo mudaria, as palavras que me dirigias não passariam de lembranças e aquele lugar passaria a ser a principal fonte da minha amargura. Irias então reclamar um pedaço de mim. Pedaço esse que logo daria, mas que mais tarde, tornar-se-ia no meu tesouro perdido, pedras preciosas que ainda hoje procuro sem cessar. Tornou-se numa busca sem esperança, em que apenas a dor me acompanha. A estrada por onde caminho é árida. O nevoeiro denso e húmido paira sobre mim, tapando as roseiras por onde os meus pés calejados, sem protecção, caminham, salpicando com o meu sangue a terra quente e áspera.
A cobardia vai tomando posse do meu corpo, desde o dia em que não quis dizer-te adeus. Receava aumentar a minha dor mas consegui o inverso. Hoje as lágrimas despontam dos meus olhos e correm lentamente, inundando a minha face, e humedecendo os meus lábios, até finalmente caírem nos cravos que trago nas mãos. São para ti.
Nada mais tenho para juntar a este pedido de desculpa. Sim, esta é a minha despedida, parece que cheguei ao fim da minha caminhada. Consigo agora ver o teu corpo. Pareces confortável aí, no meio dessa erava verde e fresca, donde crescem algumas flores brancas como a tua pele pálida e vermelhas como o sangue que a cobre.Vejo nos teus lábios aquele sorriso ingénuo que eu tanto adorava. E aí está, aninhado ao teu lado, o pedaço que me roubaste. Posso agora recuperar aquilo que me pertence e ir-me embora, mas não sem antes pronunciar um leve e amargo...Adeus.