Perco-me num copo de vinho
Levo à boca este copo brilhante de cristal límpido e transparente. Para de seguida sorver sofregamente todas as gotas deste licor ligeiramente rosado mas escuro cujo paladar, ligeiramente doce mas forte queima levemente o meu corpo, por dentro, à medida que avança.
A ânsia de viver uma vida sonhada levou todos os meus esforços aos extremos. E os extremos, esses não ajudaram, quiseram apenas expulsar-me sem misericórdia. E agora…. Nada me resta além deste copo que daqui a nada estará vazio a sorrir para mim. Sim, a sorrir, porque lhe aliviei o peso. Esse licor amargo que é a vida e que faz novamente parte do meu ser. Voltou para me levar outra vez aos extremos.
Mas não, desta vez não vou ceder, vou apenas terminar aquilo que comecei. Começar a preparar o princípio do fim desta vida pálida, monótona e infrutífera. Porque o início não é necessariamente o princípio e o final não é necessariamente o fim. E sei, tenho a certeza, que este não é o fim.